Saúde
Seu HR-V pode até estar bonito na garagem.
Você troca o óleo no tempo certo. Escolhe combustível premium.Checa a pressão dos pneus, faz alinhamento e balanceamento.
Nota ruídos que ninguém mais percebe. Com o carro, você não negocia manutenção.
Mas com o corpo… quantas vezes você ignora o cansaço crônico? Dorme mal, mas empurra mais um dia.
Sente o coração acelerar, mas diz que é só “coisa da idade”. Vive no piloto automático, sem parar para revisar o que importa.
A metáfora do carro aqui não é gratuita.É sobre prioridades.

HRV: o que é isso, afinal?
HRV (Heart Rate Variability) é a variabilidade da frequência cardíaca. Ela mede o tempo entre um batimento do coração e o seguinte e, mais importante, a flexibilidade do seu corpo
para lidar com o estresse, o repouso e a vida.
Parece detalhe técnico? Não é.
HRV não é frequência cardíaca comum (quantos batimentos por minuto), mas a variação entre os intervalos desses batimentos. Quanto maior a variabilidade, mais adaptável e saudável está o seu sistema nervoso autônomo, aquele que regula batimentos, respiração, digestão, sono e até o humor.
Um HRV alto indica que o corpo sabe alternar entre aceleração e freio.
Um HRV baixo mostra que o sistema está sobrecarregado, como um carro engatado na quinta marcha até na hora de parar.
E o que isso tem a ver com peri/menopausa?
Tudo!
Durante essa fase, os níveis de estrogênio caem de forma acentuada, principalmente na menopausa. Esse hormônio não atua apenas sobre ciclos reprodutivos, ele é cardioprotetor.
Regula a pressão arterial, melhora a elasticidade dos vasos e tem efeito direto sobre o sistema nervoso autônomo.
A queda do estrogênio reduz a HRV.
E isso abre caminho para:
- Diminuição da tolerância ao estresse
- Aumento da pressão arterial
- Maior risco de infarto e AVC
- Sono desregulado
- Irritabilidade, ansiedade, cansaço extremo
Estudos como os publicados no Menopause Journal e no Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism mostram: mulheres no pós-menopausa apresentam HRV significativamente menor do que mulheres na fase reprodutiva, mesmo quando mantêm hábitos de vida semelhantes.
O corpo avisa. Mas sem buzina.
A HRV não pisca no painel. Ela sussurra: pelo sono, pela fadiga, pelo desânimo.
Você escutaria seu carro falhar. Mas e seu corpo?
É comum saber quantos litros vão no tanque, mas não saber se a pressão está alta.
É comum agendar revisão anual do carro, mas adiar exames de rotina há três anos.
Cuidamos do que é visível, mensurável, tecnológico.
Mas negligenciamos o que carrega a vida: o coração, o sistema nervoso, a respiração.
Na peri/menopausa, esse descuido pode sair caro.
Dá para melhorar a HRV?
Sim, essa é a boa notícia!A HRV é um dos poucos marcadores fisiológicos altamente responsivos ao cuidado diário. Ela muda, para melhor ou pior, com seus hábitos. E a ciência tem cada vez mais respostas sobre o que ajuda:
Atividade física regular (aeróbico leve e moderado aumentam HRV em mulheres no climatério - Journal of Women's Health, 2022);
Terapias mente-corpo, como meditação, respiração consciente e mindfulness;
Sono restaurador, com atenção ao cronotipo individual e higiene do sono;
TRH (terapia de reposição hormonal), quando bem indicada, pode preservar a flexibilidade do sistema nervoso e do sistema vascular;
Evitar álcool, nicotina e alimentos ultraprocessados, que comprovadamente reduzem HRV.
Com acompanhamento, é possível até monitorar sua HRV em tempo real usando tecnologias como relógios inteligentes, sensores respiratórios e aplicativos validados.
Mas mais importante que a métrica é o gesto: parar, escutar e agir.
Seu carro pode esperar a próxima revisão.O seu corpo, talvez não.
Seu coração não tem luz no painel.
Mas ele sente tudo: o ritmo dos dias, o peso da sobrecarga, a ausência de cuidado.
Escutar o corpo é ato político, clínico e amoroso.
É entender que essa fase exige outros parâmetros, outra escuta, outra bússola.