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O que o fim da era Anna Wintour pode ensinar sobre presença, poder e a arte de sair no próprio tempo

Anna Wintour deixou o cargo de editora-chefe da Vogue americana após 37 anos. O nome que virou sinônimo de influência na moda global, e alvo constante de críticas, reverência e caricatura, saiu quando quis, sem anúncio dramático nem sinal de esgotamento. Saiu com a mesma firmeza com que sustentou sua presença por quase quatro décadas. Há algo a ser aprendido aqui e não apenas por quem trabalha com moda.

Entre a admiração e a antipatia, o que poucos contestam é o impacto. A longevidade de Anna Wintour em um cargo de altíssimo desgaste não se explica por talento criativo apenas, mas por uma combinação rara: constância, convicção e visão estratégica de tempo.
1. Constância é posicionamento e reconhecimento

Durante todos esses anos, Anna manteve o mesmo corte de cabelo, o mesmo estilo de roupas, o mesmo tom de voz. Não por vaidade, mas por consistência. O que para muitos parecia repetição, para ela era linguagem visual. Identidade.

Constância não é rigidez, é posicionamento. É o oposto da ansiedade por agradar. É transformar presença em assinatura. Uma postura que pode soar antiquada num tempo em que tudo é personalizável, adaptável, moldável ao outro. Mas que ensina o valor de ser reconhecível por escolhas que não mudam com o vento.

2. Você não precisa agradar para durar

Anna nunca foi a mais simpática da sala. Foi acusada de frieza, autoritarismo, elitismo. Mas permaneceu no cargo por quase 40 anos. Não por ser amada, mas por ter visão, repertório e pulso firme. Muitas vezes, essas qualidades incomodam. Especialmente em mulheres.

Existe uma crença difundida de que só permanecem aquelas que sabem "jogar o jogo", que cedem, que não criam atrito. Anna Wintour joga por outras regras. Ela construiu autoridade sem precisar suavizar sua presença para ser digerível. E isso, por si só, já é uma lição: respeitar nem sempre é sinônimo de gostar. Às vezes, é sinônimo de reconhecer força.

3. Sair no próprio tempo também é uma forma de comando

Talvez a lição mais relevante, especialmente para mulheres em transição de carreira ou em fase de redefinição profissional, esteja no modo como Anna Wintour decidiu sair. Ela não esperou ser substituída, nem deixou que o tempo esvaziasse sua presença. Saiu no auge. Com elegância. No tempo dela.

Saber a hora de sair exige coragem. Porque é mais fácil permanecer onde já se tem poder. Mas sair, quando é escolha e não reação, também é uma forma de poder. É

uma afirmação silenciosa: “eu não fui tirada, decidi ir”. E isso, num mundo que ainda espera que mulheres peçam licença ou aceitem o esvaziamento como destino natural, é revolucionário. Nem toda inspiração vem de figuras fáceis de admirar. Mas existem trajetórias que, mesmo controversas, ensinam sobre o que significa sustentar uma visão por décadas e sair de cena sem perder o centro.

Anna Wintour não foi apenas uma editora de moda. Foi uma figura que moldou a forma como poder, presença e longevidade profissional podem coexistir, mesmo em meio a críticas, mudanças geracionais e novos códigos culturais.

Para quem está repensando o rumo, reavaliando escolhas ou se perguntando qual será o próximo passo… vale observar como certas mulheres fizeram história não por serem perfeitas, mas por sustentarem com clareza aquilo que escolheram ser.