Saúde

O que não se vê por trás da fertilização in vitro

“Cada rodada era como lançar os dados. Quando não dava certo, era como ser enganada.”
Foi assim que a atriz irlandesa Charlie Murphy, conhecida por seu papel em Peaky Blinders, descreveu os ciclos de fertilização in vitro (FIV) que enfrentou até engravidar. Aos 37 anos, depois de cinco tentativas e uma perda gestacional, Charlie se prepara agora para a chegada de seu primeiro filho. A gestação, nas palavras dela, é uma vitória emocional, física e financeira.

Mas mais do que celebrar o final feliz, Charlie escolheu algo ainda mais poderoso: romper o silêncio.
Um processo difícil de nomear, e de dividir

Quem já passou por um tratamento de FIV sabe: não é só sobre hormônios, exames e protocolos. É sobre luto antecipado, esperança fragmentada, cobranças internas e externas, medo do tempo e silêncio. Muito silêncio.

Silêncio sobre o cansaço.
Silêncio sobre o impacto no corpo.
Silêncio sobre a sensação de fracasso quando o teste dá negativo — de novo.
Silêncio até para não preocupar quem está por perto.

Mesmo em um momento em que a medicina reprodutiva está mais acessível e presente na vida de muitas mulheres, falar abertamente sobre o que isso representa ainda é raro.
Existe vergonha, existe culpa, existe uma dor que, por não ter forma nem nome, muitas vezes fica guardada, invisível até para quem vive.

Por isso, quando uma mulher como Charlie diz publicamente que passou por tudo isso, ela abre uma fresta de luz. Porque o que mais falta, nesse processo, além de recursos, é acolhimento. É poder olhar para o lado e perceber que não se está sozinha.

A importância de saber que não é só com você

Muitas mulheres que recorrem à FIV fazem isso depois de um longo percurso. São histórias que envolvem tentativas naturais frustradas, diagnósticos difíceis, relacionamentos que sofrem e decisões pesadas, que não cabem em uma consulta de 15 minutos.

Ter acesso a essas histórias reais, honestas, com todas as suas nuances, pode ser transformador. Ajuda a tirar o peso do silêncio e devolve um pouco de humanidade ao processo.

Mostrar que a maternidade nem sempre segue a rota convencional é também afirmar que há outras formas possíveis de vivê-la, inclusive com ajuda médica, suporte emocional e tempo.

A reprodução assistida não é simples. Mas ela é, para muitas mulheres, uma possibilidade concreta. Uma chance de tentar. E mesmo quando não traz o resultado esperado, é preciso reconhecer a coragem de quem atravessa esse caminho.

O depoimento de Charlie Murphy é um lembrete importante: o sofrimento silencioso não precisa continuar sendo a regra. Falar sobre o que se vive, com vulnerabilidade, sim, mas também com dignidade, é parte da cura coletiva.

E toda vez que uma mulher compartilha sua trajetória, ela oferece a outras um pouco mais de chão, de fôlego e de esperança.

Porque por trás de cada ciclo, de cada tentativa, há muito mais do que hormônios e protocolos.
Há amor. Há escolha.