Família

Minha vida como mãe atípica

Nem todas as mulheres desejam ser mães, mas todas que o desejam trazem uma expectativa dos filhos: será que vai ser parecido comigo? Vai seguir a minha profissão? Será que vai torcer para o time de futebol preferido da família?
Enquanto a criança é um bebê, se parece com os outros bebês da mesma idade, mas este chora um pouco demais, não dorme a noite toda, se debate no colo, mas nem o pediatra nem os familiares veem nada demais nisso. Até que as crianças começam a falar, mas o seu filho não… as crianças se comunicam e interagem entre outras crianças, mas seu filho parece não ouvir, parece não se importar com as crianças ao redor e não brinca de maneira usual. De repente um diagnóstico: AUTISMO! 

Para mim, mulher de 38 anos, promotora de justiça que já havia tido muitas experiências com demandas da infância, saúde e tantas outras atribuições, nunca havia me deparado com um caso que envolvesse autismo.

Começou uma nova história na minha vida, repleta de medos, incertezas, desamparo, pouca informação, buscas, mas também de muitas descobertas, muitos obstáculos superados, muitas comemorações e um amor infindável!

Ser mãe atípica não tem glamour. Nós nos acostumamos e deixamos de sermos convidadas para os mesmos espaços que antes éramos. Nos acostumamos a termos opções e momentos diferentes de lazer, de convívio social e familiar. Nos acostumamos com inúmeras horas em salas de espera formando relações com pessoas que ali estão, aproveitando o tempo para trocar o máximo de informações úteis. Acostumamos a programar nossos gastos em cima da quantidade de profissionais que teremos que pagar por mês e não daquela viagem ou de um intercâmbio cultural.

A profissão da mãe atípica também muda. Muitas deixam suas profissões porque não têm quem cuide de seus filhos enquanto eles estão desorganizados, em crises e nem a escola nem a família estão dispostos a isso. Outras continuam a exercê-la, mas já não mais com a mesma garra e disposição. Sim, porque muitas vezes temos que ir ao trabalho após uma longa noite de estresse e de crises.

No entanto, conhecer um ser humano tão sensível, tão generoso e tão amoroso como meu filho autista, é uma dádiva. Aprender ensinando, ouvindo, sentindo, esperando cada momento com ele é um prazer sem preço. A alegria de cada conquista e cada momento de pura simplicidade é emocionante!

O mundo seria muito, mas muito melhor se todos pudessem vê-lo com os seus olhos.

Sandra Lucia Garcia Massud
Mãe do Stefano Garcia Massud - 17 anos