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“Levei anos para descobrir os padrões de capacidade e da beleza do meu corpo”, diz Leka Begliomini

O Bloom Club traz hoje um artigo super especial da atriz, jornalista, empreendedora, escritora e desbravadora de realities Leka Begliomini falando sobre os caminhos que muitas mulheres percorrem de não aceitar a própria imagem – e fazendo um poderoso convite para que todas nós comecemos a observar nossos próprios corpos, alicerces de nossas existências, com mais amor e gratidão. Confiram:
Desde muito cedo, percebi que a aparência do corpo, definição e tamanho eram fatores muito importantes. Essa informação me chegava na forma dos corpos que eram consideradas bonitos, nas capas de revistas e também na insatisfação de todas as mulheres com quem convivi. Da minha mãe até aquela vizinha que me parecia uma diva de cinema, nenhuma dizia “sou maravilhosa e me acho linda do jeito que sou”. Cresci acreditando que o sucesso não poderia vir se eu não tivesse um corpo magro, longilíneo, parecido com aqueles que cintilavam na mídia da época.

Cresci e sacrifiquei, de forma consciente, boa parte da minha vida e da minha saúde física e mental, na busca pelo corpo magro e pelas promessas que ele me trazia. A duras penas cheguei lá. Desenvolvi vários transtornos alimentares e psicológicos. E, mesmo assim, as promessas não se cumpriam inteiramente. O espelho refletia o corpo magro, mas ele era oco. Vazio de mim. E eu não encontrava a tal da felicidade.

Levei anos para descobrir os padrões de capacidade e da beleza do meu corpo. Não daquele forjado a base de remédios e dietas malucas. Mas do meu verdadeiro corpo. Aquele que eu odiava tanto, mas que, gentilmente, continuava a ser generoso comigo e carregava, com saúde e disposição, quem eu era de verdade. Comecei a desafiar a ideia do que era ter um corpo gostoso, “bom”, e comecei a entender que meu corpo não era o meu sonho, mas sim quem carregava a minha capacidade de sonhar. Descobri que o meu era perfeito, e que esse valor não tinha nada a ver com o corpo em si. 

Eu experimentei uma mudança de paradigma que parecia um renascimento. Isso me deu o poder de perseguir todos os meus sonhos através desse instrumento tão poderoso que tanto maltratei. E é por isso que sou tão entusiasta de que as pessoas abracem os seus corpos: todo nosso poder e toda nossa liberdade dependem disso. Se resistirmos ao nosso corpo, não poderemos viver livremente. Vivemos sem ter o poder que podemos ter. Nosso mundo gira em torno de mudar nossos corpos ou moldá-los para corresponder a um ideal imposto. Mas nossos corpos mudam. Eles crescem, encolhem, machucam, curam, cicatrizam, são máquinas biológicas, vivas, mutáveis... e são projetadas para se deteriorarem. Ou seja, se não perdermos esse jogo pra magreza, perderemos para o tempo. 

E me parece uma escolha muito infeliz apostar nossas fichas em um jogo em que todos estamos fadados a perder. Não seria mais inteligente respeitarmos nossa diversidade e aprendermos a reconhecer a beleza que há em cada um de forma individual? Talvez aquele corpo magro que a gente cobiça não carregue o humor ou o talento ou a inteligência que o nosso carrega. Essa é uma parte linda de ser humano que desprezamos porque confundimos nosso valor com nossos corpos. Eu não era mais valiosa quando tinha 20 anos, um abdômen definido e uma cabeça completamente ocupada com a preocupação de não perdê-lo. Ao contrário, eu não conseguia olhar pra ninguém além de mim mesma. A preocupação de deixar meu corpo tomar as formas que a sua natureza tinha, me impedia de ser minha melhor versão. Não sobrava espaço pra mais nada. 

Hoje continuo buscando o meu melhor, mas sem ignorar as tantas partes que compõem a minha beleza e o que me faz um ser único no universo. Meu corpo é um milagre. É perfeito e faz o seu trabalho muito bem. E meu valor independe das mudanças que, porventura, venham a acontecer ao meu corpo. Quero que as pessoas que convivem comigo notem a beleza da presença e da alegria que ele carrega muito além da perfeição das suas formas. E desejo que o seu também possa te proporcionar essa sensação. 

Convido você a ter consciência de seu poder e liberdade abraçando seu corpo do jeitinho que ele é. E agradecendo a ele a capacidade maravilhosa de ser seu maior e mais generoso instrumento.

Leka Begliomini nasceu em 1974, em São Paulo capital. “Como toda a minha geração, cresci cercada pelos mais diversos mitos de beleza e sucesso que supervalorizavam a imagem como forma única de poder e felicidade. E desde muito cedo senti na pele os sofrimentos provocados por transtornos de imagem que, na época, nem nome possuíam”, conta. Depois de fazer parte da primeira edição do Big Brother Brasil, o maior reality show do país, ela teve exposta sua bulimia e dismorfia, sendo pioneira a falar publicamente sobre tais assuntos. Atriz e jornalista por formação, empreendedora por vocação e escritora por paixão, Leka sempre encontrou na escrita a melhor forma de compreensão das coisas e de si mesma, e assim escreveu o primeiro livro, o Loka, Eu?!?, com o propósito de promover reflexões por meio de uma narrativa bem humorada.

Acompanhe Leka no Instagram em @lekabegliomini.