Relacionamentos

Leitora pergunta: como superar uma superação estando com três filhos?

Como lidar com uma separação após tantos anos de relacionamento, especialmente com a responsabilidade de cuidar de três filhos? Como encontrar um equilíbrio entre as próprias emoções e o bem-estar da prole, enquanto se tenta reconstruir uma nova vida, após ter investido tanto na antiga? Essas são questões profundas trazidas por uma leitora do Bloom Club, que reflete sobre um momento difícil, mas que muitas mulheres corajosamente enfrentam – e superam. Para nos ajudar a compreender melhor esse processo, a psicóloga Paula de Menezes Karam, especialista em terapia cognitivo-comportamental, compartilha valiosos conselhos sobre como atravessar essa fase:
Uma separação conjugal traz, comumente, dor emocional para ambos. Representando uma ruptura, a separação exige das partes uma reprogramação de vida e, consequentemente, um período de adaptação. Num primeiro momento, vive-se um caos interno com teor de incertezas acerca do futuro, culpa, sensação de fracasso, entre outros sentimentos desconfortantes. Quando há filhos que compõem a família, os sentimentos ficam ainda mais confusos e intensos, e a dor psicológica toma outras proporções. Afinal, a preocupação com os mesmos existe.
 
Em um relacionamento pautado em conflitos, desencontros, falta de comunicação, ausência de respeito, amizade e empatia e, sobretudo, no qual as necessidades emocionais não estão sendo supridas minimamente por ambas as partes, ocorre o que chamamos de “solidão acompanhada”, caracterizada por uma sensação de espaço vazio entre as duas pessoas do casal, por meio da desconexão emocional. Quando todas as estratégias possíveis para o casal foram utilizadas com o objetivo de um reencontro, mas sem surtirem efeito satisfatório, por vezes a melhor saída é uma tomada de decisão que engloba uma reestruturação de vida para a família como um todo. Nesse caso, a separação conjugal é uma das possibilidades. 

Quando há filhos envolvidos, no entanto, é preciso que algumas medidas sejam tomadas em prol de minimizar os efeitos psicológicos e angustiantes que uma separação possui. Algumas dicas práticas que podem auxiliar nesse processo são: 
  • Evite ao máximo falar mal da outra parte da relação ou culpá-la pela separação. Lembre-se: uma relação conjugal é composta por duas pessoas, e o que não foi possível, provavelmente, foi a inter-relação e a combinação de crenças e padrões de cada parte.
  • Converse com os filhos de forma verdadeira, empática e clara, tirando as dúvidas que eles possam trazer sobre toda a situação. Lembre-se de que as crianças sentem o ambiente e, muitas vezes, “sabem” o que está acontecendo, só não adquiriram ainda (a depender da idade) facilidade na expressão de seus sentimentos.
  • Explique aos filhos que eles continuarão sendo cuidados por mãe e pai. Que ambos se separaram, mas não deles.
  • Acolha sua dor e também a dos filhos. Aceite que ela, a dor, no período de adaptação, fará parte da vida e que isso não necessariamente é algo ruim, mas sim inevitável. Una-se com os filhos em prol de uma reconstrução de padrões familiares possíveis.
  • Dialogue com a outra parte conjugal, na medida do possível, para definirem juntos o que será decidido em prol do bem-estar dos filhos. 
  • Procure não mexer muito na rotina. Isso causaria uma “mudança em cima de outra mudança”, o que pode gerar sensação de caos interno.
  • Mude o visual, troque algumas peças de roupas (se possível), doe o que não usa, faxine armários e partes da casa. Busque novas formas. Busque o novo. 
  • Se for você a realizar a mudança do local de moradia, leve algo para o novo lar que te represente harmonia. Pode ser um objeto de sua preferência que remeta a algo novo para a casa nova.
  • Busque sua rede de apoio nos amigos, familiares, local de trabalho, vizinhos e em todas as pessoas das quais você sente que pode receber acolhimento e compreensão.
  • Reitere aos filhos, sempre que possível, que o amor está no meio de toda a situação. Traga segurança e proteção a si e a eles. 
  • Lembre-se de histórias semelhantes de outras pessoas, que foram escutadas ou conhecidas por você e como, após o período de adaptação, tudo foi para o seu devido lugar.
  • Acredite em você e na vida.
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Colaboradora: Paula de Menezes Karam, psicóloga clínica há mais de 20 anos, com títulos de especialista em terapia cognitivo comportamental e neuropsicologia, e também formada em terapia do esquema de Jeffrey Young. É fundadora e diretora executiva da clínica de psicologia Cognicom – especializada em terapia cognitivo comportamental –, composta por equipe de psicólogos e neuropsicólogos. CRP. 06/69866 

Instagram: cognicomtcc