Arte e Entretenimento
Gloria Pires volta ao cinema em obras sobre a maturidade
Trabalhos em reprise no Globoplay e família
Neste ano, algumas obras nas quais Gloria estava no elenco voltaram ao ar no Globoplay. Uma delas foi “Água Viva” um dos maiores sucessos do ano de 1980 e que trouxe a atriz em um papel de destaque, depois de viver a protagonista de “Cabocla” (1979). A novela selou a relação de amizade entre ela e Gilberto Braga. “Foi a segunda novela que fiz com o Gilberto. Eu atuado em ‘Dancin´Days’. O fato de ser fã do estilo e do texto do autor me ajudou muito. Eu gostava muito dos seus diálogos, das tramas complexas que ele criava e como as desenvolvia. Ele tinha essa característica forte de criar novelos e ir desenrolando a trama com o avançar dos capítulos de uma forma brilhante”.
“Aos 14 anos, ele viu em mim algo que eu não sabia que possuía. Essa questão da visibilidade que se fala hoje, foi o que vivi com ele. Cresci muito, pessoal e artisticamente com Gilberto Braga. A ele tenho só gratidão” – Glória Pires
Na época, “Água Viva” polemizou por trazer mulheres muito à frente de seu tempo, ativas, protagonistas, e até querendo fazer topless. Sandra, a personagem de Gloria, Lígia (Betty Faria), como a Janete (Lucélia Santos) eram mulheres muito fortes e numa época de grande repressão. Gloria vê a mudança do comportamento e da perspectiva da mulher na sociedade daquela época para atual com muita clareza. “Nos anos 80, só o fato de uma mulher trabalhar fora, ou não querer se casar para se formar antes, já era a temática da personagem. Hoje as personagens têm histórias complexas, outra representatividade. Celebro essa evolução, mas reconheço que elas não acabaram”.
Outro trabalho a ser resgatado foi “Memorial de Maria Moura“, igualmente uma mulher forte, numa minissérie que é atual, embora tenha completado recentemente 30 anos. “Maria Moura traz um recorte muito atual da realidade feminina: superar a violência doméstica e seguir seu caminho. Ela precisa enfrentar homens estabelecidos nos seus privilégios que acreditavam que tinham o poder de decidir o destino dela. É uma mulher fiel ao que sente, é fiel ao que acredita ser justo e ela luta por isso bravamente. Creio que, na vida, as mulheres travam ainda batalhas muito duras”.
Aliás, esta minissérie também é a primeira a trazer Cleo num trabalho de atriz, através de um convite de Carlos Manga (1928-2015). Segundo Gloria, sua filha teve um papel fundamental no projeto, quando sugeriu uma cena aos diretores que acabou sendo incorporada no projeto. “Ela fez uma participação. O Carlos Manga, diretor artístico da série, teve essa ideia de tê-la interpretando Maria, meu personagem, quando criança. O lindo plano que traz a passagem de tempo na série foi sugerido por ela, e uma solução tão criativa que Denise Saraceni aceitou a sugestão”.
A atriz reflete com profundidade sobre sua experiência ao lado da nova geração de atores. Em sua jornada, ela observa o surgimento de jovens intérpretes com notável aptidão, profundamente conscientes e dedicados ao ofício que abraçaram. O valor da troca entre gerações, para ela, é inestimável, e o diálogo entre o saber consolidado e a vivacidade da juventude cria uma sinergia essencial para a evolução da arte dramática. Gloria comenta: “Eu tenho tido a oportunidade de encontrar jovens atores muito talentosos, muito conscientes e respeitosos com o ofício. Eu gosto muito de trocar, de ter esse diálogo com essa geração que está chegando. Temos bons atores surgindo, trabalhando arduamente para construírem as suas carreiras.”
A televisão, em suas múltiplas formas de veiculação, tem sido o palco de histórias que, por décadas, emocionam e conectam o público brasileiro. Gloria Pires reflete sobre o papel atemporal das novelas e seu impacto na sociedade. Para ela, a essência das boas narrativas transcende o meio pelo qual são transmitidas, permanecendo sempre relevante. Mesmo com o advento de novas tecnologias e plataformas, a dramaturgia televisiva continua a ser uma peça-chave da cultura nacional, dialogando com o povo de maneira única. Gloria afirma: “As boas histórias sempre terão espaço, nos veículos de comunicação [TV aberta ou streaming] e na casa das pessoas. Não tenho dúvidas disso! Acho que a forma como consumimos pode até mudar, mas esse formato diz muito sobre a nossa cultura”.
Em sua vasta trajetória, tanto no âmbito pessoal quanto profissional, Gloria Pires encontra motivos profundos para se emocionar. Sua família, sendo um refúgio seguro e fonte constante de carinho, ocupa um lugar de destaque em seu coração. Ao lado disso, a arte que ela exerce com tanto afinco também desperta suas emoções, já que através do trabalho ela se conecta à nobre tarefa de contar histórias e criar universos imaginários. A relação entre vida e arte é, para Gloria, um fluxo contínuo de inspiração e sensibilidade. “Muitas coisas! Minha família, sem dúvida, é algo muito rico que sempre acolhe, e isso é fantástico. O trabalho também me emociona muito porque está sempre ligado ao fato de contar histórias, criar mundos”, conclui a atriz.
Fonte: Vitor Antunes / Heloisa Tolipan