Arte e Entretenimento
"Desfile de papel", de Jum Nakao, comemora 20 anos
As peças, confeccionadas todas em papel de diferentes gramaturas e técnicas (desde práticas japonesas de fazer renda em papel, passando por corte a laser e texturização do material), e modeladas milimetricamente sobre o corpo das modelos do desfile, foram todas rasgadas ao final do desfile. Quase uma tonelada de papel (entre roupas e cenário) e 700 horas de trabalho de mais de 200 profissionais foram destruídos ao final da apresentação, sob a euforia e lágrimas dos 1.300 convidados. A ideia veio para Jum durante um período de sufocamento. A moda nacional, que, durante as décadas 1980 e 1990 havia ganhado tração e vinha construindo sua identidade e conquistando projeção internacional, estava sendo agonizada pela globalização. A chegada dos tecidos e peças importadas, especialmente chinesas, e do fast-fashion gerava uma pressão sobre os designers nacionais no quesito redução de preços e de qualidade de materiais.
Encerrar sua marca definitivamente, rasgando as peças que haviam sido criadas, foi como uma representação dos sofrimentos pelos quais a moda nacional passava na época. Jum conta que a ideia do nome "A Costura do Invisível", como foi batizado depois o desfile e um documentário sobre ele, veio de uma das profissionais que trabalhava na equipe de limpeza do evento, que, depois da apresentação, conversou com o designer emocionada. Jum conta que, após a apresentação, recebeu dezenas de ligações pedindo para, passado o desfile, que se pudesse conhecer a coleção que seria desenvolvida a partir dele. "Não havia caído a ficha de que não tinha coleção. As roupas foram rasgadas, era isso”.
A Costura do Invisível ganhou o título de desfile da década pelo SPFW em 2005, na cerimônia que celebrou os dez anos da semana de moda nacional, por votação popular e de júri e foi reconhecido como um dos maiores desfiles do século pelo Museu de Moda da França (Musée Galliera) em 2006. Desde então, Jum vêm trabalhando com consultorias para empresas privadas e projetos especiais, foi o designer da cerimônia de apresentação do Brasil nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, e, na edição Rio 2016, criou um projeto artístico interativo. Também assinou coleções para marcas que vão da Nike (com a linha JUM NAKAO for Nike) até Zoomp, onde foi diretor de estilo por 6 anos.