Saúde
Boomerasking: você pergunta só para falar de você?
Esse comportamento não tem a ver com idade e não é falta de inteligência emocional necessariamente. Muitas vezes é automatismo. Estamos tão acostumadas a usar a conversa como palco que esquecemos que ela deveria ser ponte. Então alguém diz que está cansada do trabalho e, em vez de ouvir, perguntamos onde ela trabalha e já emendamos falando da nossa sobrecarga. Alguém conta que está fazendo terapia e, em vez de perguntar há quanto tempo e o que está ajudando, contamos do nosso processo inteiro. O assunto volta como bumerangue. Sempre.Como saber se você está caindo nisso sem perceber?
Repare se suas perguntas já vêm com uma resposta sua na ponta da língua. Se você interrompe para contar a sua versão. Se o assunto sempre acaba voltando para a sua experiência, sua dor, sua opinião. Se você se pega encerrando o relato da outra pessoa com um “eu também” que não acolhe nada, apenas troca o foco. Boomerasking é isso: fazer de conta que está perguntando quando, na verdade, está só esperando a sua vez.
O problema é que esse padrão empobrece as relações. Quem fala com alguém que boomeraska o tempo todo sai com a sensação de invisibilidade. Fica com vontade de não dividir mais. Começa a resumir a própria história porque aprendeu que não vai ser ouvida até o fim. Isso afasta. Isso cria laços superficiais. E, no limite, isso mantém as mulheres num lugar que conhecem bem, o de dar espaço para o outro brilhar enquanto ficam sem lugar para elaborar o que vivem.
Para quebrar o ciclo, o caminho é simples, mas exige atenção. Preste atenção ao impulso de responder. Respire um segundo antes de emendar. Em vez de contar a sua história logo, peça um detalhe a mais da história do outro. Reconheça o que a pessoa disse. Se ela contou que terminou um relacionamento, não entre contando do seu fim de namoro de cinco anos. Pergunte como foi, o que mais doeu, o que ela já percebeu sobre si. Ouça até o fim. Só depois compartilhe, e compartilhe quando for somar, não para disputar protagonismo.
Conversa é troca, não bumerangue. Quando duas pessoas conseguem sustentar um espaço de fala real, todo mundo sai maior. Quando uma fala e a outra só usa aquilo como trampolim, alguém sai menor. Perceber esse padrão em nós mesmas não é motivo de culpa, é oportunidade de refinar a presença. E presença, hoje, é quase luxo.