Relacionamentos

“As cores do outono”, por Larissa Fontanini

O que a observação da passagem das estações do ano me ensinou sobre a vida
Eu me lembro exatamente do dia em que parei para admirar uma árvore já com as folhas amareladas, quase secas, típicas de um outono Argentino. Eu havia recém-completado os simbólicos 40 anos e acho que foi a primeira vez, em muitos anos, que consegui separar os meus sentimentos da situação em si. 

O sentimento: uma certa tristeza pela “morte”, ou fim de um ciclo frutífero. A situação: o ciclo da natureza é um ensinamento literal de que é preciso secar para novamente florescer. 

Foi nesse mesmo período que minhas filhas entraram na adolescência e precisei me despedir, duramente, das crianças que já não habitavam mais meu ninho. 

Na mesma época, havia deixado um trabalho que eu adorava para viver em um novo país com minha família.

A academia que eu estava acostumada, o apartamento onde meu marido e eu construímos grande parte da nossa história, a casa de praia dos nossos verões, o colégio das meninas… tudo foi secando junto com aquelas folhas de outono.

O inverno no frio é duríssimo. A luminosidade muda drasticamente, difícil acordar sem claridade, a pele resseca… mas existe uma cor no céu que é maravilhosamente única, e só se vê nessa época do ano. A neblina da manhã te coloca em um lugar mágico e te ensina que, seguramente, o sol vai aparecer logo mais.

O tempo vai passando e na rotina de levar o cachorro para passear, você observa um brotinho verde em uma árvore que estava ali seca mas resistindo àquele frio. E você se dá conta que a primavera está chegando. 

Tudo muda: as cores, as formas, a suavidade do vento. E uma alegria toma conta de você, meio que sem motivo mesmo…

E um novo ciclo se inicia: a adolescência dos filhos é mágica. Tem algo de lindo que vale a pena observar e desfrutar: ela traz uma vitalidade e uma energia que a responsabilidade do cuidado na infância muitas vezes nos rouba. Uma nova relação conjugal também se inicia. Aqueles pais de crianças agora possuem uma liberdade que ficou esquecida lá na época das fraldas e mamadeiras.

Um novo projeto profissional empolgante, agora com uma maturidade e tranquilidade que antes eram ocupados por ansiedade e senso de urgência. 

Esse é o meu verão…estou curtindo cada momento já sabendo que a previsão para o próximo outono não será dos mais animadores. Os sinais da pré-menopausa já estão batendo a minha porta.

É mais uma estação. 

E de diferentes formas esse ciclo vai tocar nossas vidas, em diversas ocasiões e histórias, por vezes mais intenso, por vezes mais brando. E por mais duro que seja o inverno, seguirei procurando um brotinho verde na primavera. 

Texto de Larissa Fontanini, mãe de gêmeas “no susto”,  parceira de aventuras, engenheira civil por formação e executiva de marketing por paixão.
Instagram @lari_fontanini