Família

A síndrome do ninho vazio na ótica de uma mulher moderna

Em novo artigo especial para o Bloom Club, Patrícia Rosado compartilha sua experiência e como vem lidando com a distância do filho, que foi estudar no Canadá
Viver a síndrome do ninho vazio como uma mulher moderna e empoderada pode ser um desafio inesperado. Muitas vezes, acreditamos que por termos uma vida intensa, uma carreira bem-sucedida, um casamento feliz e uma independência marcante, não seríamos afetadas por esse momento de transição. No entanto, a realidade é que o ninho vazio independe de todas essas conquistas e pode gerar emoções conflitantes, carência e insegurança, pelo menos foi o que aconteceu comigo.

Deixe-me compartilhar um pouco da minha experiência. Sou psicóloga de formação, uma executiva e diretora de RH em uma grande empresa, e construí uma carreira sólida ao longo de mais de 20 anos. Sempre quis ser mãe, mas também valorizei muito minha carreira e independência. Além disso, gosto de sair, curtir a vida com meu marido, desde jantares a festas, ou seja, sempre me orgulhei muito do equilíbrio que consegui entre minha vida profissional e pessoal e, por isso, acreditava que essa história de ninho vazio não se aplicaria a mim. Mal eu sabia que estava me enganando.

Tenho um único filho, que hoje já está com 20 anos. Ele tomou a decisão de fazer faculdade em Toronto e partiu para morar longe de casa ano passado. Confesso que, apesar de estar feliz e orgulhosa por ele estar buscando seus sonhos, sinto um aperto no coração com a distância que nos separa e o processo para entender o que essa mudança significou para mim não foi fácil.
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Sempre mantive uma relação muito próxima com meu filho, concedendo-lhe o espaço que todo adolescente precisa. Buscávamos criar momentos juntos, seja em viagens em família ou nos almoços de domingo. Em casa, éramos frequentemente cada um no seu canto, eu no meu quarto, meu marido no escritório e ele jogando no quarto dele. Não importava que não estivéssemos envolvidos nas mesmas atividades, o simples fato de estarmos todos em casa criava um sentimento de plenitude. Gosto de aproveitar a vida, de viajar e sair para me divertir com os amigos. Devido a essa vida ativa, achei que estaria preparada para ver meu filho saindo de casa, mas ver meu filho crescer e trilhar seu próprio caminho foi como cortar novamente o cordão umbilical. 

A presença do meu filho sempre teve um lugar muito significativo em minha vida. Quando chegou o momento da partida, foi natural sentir um vazio, mas só agora estou compreendendo isso, que na verdade esse momento é viver um luto. Inicialmente, tentei me enganar, acreditando que tudo estava bem, mas não estava. Experimentei dificuldade em expressar tristeza; era um sentimento que ficava preso dentro de mim, afinal "sou uma mulher forte". Minha imunidade diminuiu e me tornei mais sensível, chorando com facilidade e ficando mais irritada. Minhas emoções oscilavam constantemente, inclusive descarreguei minha carência em meu marido brigando com ele algumas vezes, cobrando sua atenção, algo que não fazia antes. Deixei meu marido confuso e sem saber como lidar comigo. No trabalho, adotei uma postura mais dura e exigi mais da equipe do que nunca. Em resumo, estava infeliz. Foi somente quando me permiti expressar minhas emoções, chorar e buscar auxílio terapêutico que as coisas começaram a melhorar.

Mulheres, fiquem atentas a esse momento, não diminuam, pois é por isso que muitas mães ficam presas na vida do filho, se metendo nos relacionamentos, gerando conflito com os genros ou noras e querendo as vezes até tomar o "lugar"da filha ou nora no nascimento dos netos... Enfim, em vez de aprenderem a olhar pra sí mesma, para nossas necessidades, para os nossos outros papeis de mulher, permanecem presas ao papel da mãe que não quer deixar o filho crescer. 

Permitir a expressão desses sentimentos de dor e vazio da ausência do filho é primordial, em vez de reprimi-los, e reconhecer a tristeza que está presente. É crucial acolher e compreender a dor desse momento para lidar com ele de maneira saudável. Ninguém pode ocupar o lugar que meu filho deixou, nem meu marido, nem as responsabilidades profissionais. Trata-se de um processo de adaptação que exige autoconhecimento e autocuidado. Durante meses, mantive a porta do quarto do meu filho fechada para me iludir, fingindo que ele estava lá dentro jogando video game, no entanto, hoje mantenho-a aberta e encaro a situação de frente.

A terapia desempenha um papel essencial nesse percurso, tem sido uma grande aliada. Ela ofereceu a oportunidade de refletir sobre sonhos adormecidos ou necessidades esquecidas, ao mesmo tempo em que vem me ajudando a lidar com as emoções que surgem nesse turbilhão de sentimentos. Me vejo em momentos de encontro comigo mesma e ando redescobrindo momentos da minha vida que me deixei de lado em função do meu filho e tem sido importante para me reconhecer ainda melhor. 

Aprendi que é essencial se permitir a vivenciar o luto do ninho vazio, não importando o quão preparada pense estar ou as circunstâncias da sua vida, qualquer seja o seu trabalho, estado civil, idade, e assim por diante. O que realmente importa é o espaço que a presença do seu filho ocupava na sua vida.
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É claro que também é muito reconfortante ver meu filho seguindo seu próprio caminho, amadurecendo longe do ninho da mãe. Saber que ele está bem e lidando com esse novo momento também ajuda no meu processo de adaptação. É gratificante testemunhar seu crescimento sob uma nova luz, e sinto muito orgulho desse jovem adulto que está em pleno desenvolvimento. Agora, estou aprendendo a lidar com a saudade e a distância, mas também estou descobrindo novas formas de manter nossa conexão viva. A tecnologia tem sido uma aliada, permitindo que possamos nos ver e conversar mesmo estando tão distantes.

Essa nova fase me fez refletir sobre a importância de equilibrar as diferentes áreas da nossa vida. A maternidade é um vínculo eterno, mas também é importante nutrir nossos próprios interesses e aspirações para dar o espaço para que os filhos amadureçam. Acredito que essa experiência pode me tornar uma mãe ainda mais forte e presente, mesmo que à distância.
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Portanto, mulheres que estão passando pela síndrome do ninho vazio, é importante primeiro acolher-se e, se for o caso, buscar ajuda profissional ou trocar experiências com outras mães na mesma situação. Afinal, esse momento de transição pode ser uma oportunidade para redescobrir a si mesma e reavivar projetos pessoais que estavam em segundo plano. O ninho pode estar vazio, mas o coração pode se encher de novas possibilidades.

Agradeço por poder compartilhar um pouco do meu coração com vocês. Se alguém mais estiver passando por uma situação semelhante, saiba que não está sozinha. Vamos seguir em frente juntas, valorizando cada momento e construindo novas formas de estar presente na vida daqueles que amamos.

Patricia Rosado