Saúde
A música pode mudar seu intestino. Literalmente.
E agora, a ciência começa a comprovar isso com mais clareza do que nunca.
Um estudo conduzido por pesquisadores espanhois trouxe dados concretos sobre a conexão entre música e saúde intestinal. O ensaio clínico utilizou o método BMGIM - Bonny Method of Guided Imagery and Music - em pacientes com Doença Inflamatória Intestinal (DII), uma condição crônica marcada por inflamações recorrentes no trato gastrointestinal, como na retocolite ulcerativa e na doença de Crohn.

Criado pela musicoterapeuta Helen Bonny, o BMGIM combina escuta musical profunda com visualizações guiadas. Diferente de apenas "ouvir música para relaxar", essa técnica envolve sessões estruturadas, conduzidas por profissionais, em que a música atua como catalisadora de imagens mentais, memórias e emoções e, por consequência, de transformações internas.
Durante o estudo, pacientes participaram de sessões semanais ao longo de oito semanas. As músicas escolhidas foram criteriosamente selecionadas para induzir estados específicos de relaxamento, introspecção e abertura emocional, sempre com o apoio de um terapeuta.
Resultados: o que a música transformou
Mesmo sem nenhuma alteração no tratamento medicamentoso dos pacientes, os efeitos foram surpreendentes:
Redução significativa de emoções como tristeza, raiva e medo;
Diminuição dos níveis de cortisol salivar, um dos principais hormônios relacionados ao estresse crônico;
Melhora de marcadores emocionais importantes, como sintomas de depressão e ansiedade.Embora a qualidade de vida percebida ainda não tenha mostrado melhora expressiva em tão curto prazo, os aspectos emocionais reagiram com rapidez. O corpo sentiu. A mente respondeu.
E tudo isso partiu de uma escuta ativa, sensível e profundamente humana.
Por que isso importa?
Pesquisas sobre o eixo intestino-cérebro têm mostrado que o sistema digestivo é altamente sensível a estados emocionais. Alterações no humor, estresse crônico e traumas psicológicos podem impactar diretamente a microbiota intestinal, a motilidade do intestino e até a resposta imunológica.
Quando tratamos emoções como algo "secundário", esquecemos que elas têm efeitos reais e mensuráveis no corpo. A música, nesse contexto, se apresenta não como um luxo ou passatempo, mas como uma ferramenta terapêutica com potencial biológico real.
Não é misticismo. É ciência, bioquímica, escuta.
A medicina do futuro, ou melhor, do presente, reconhece que escutar vai além dos ouvidos. É sobre perceber o que o corpo comunica em silêncio, sobre criar espaços para o afeto, o simbólico e o subjetivo dentro do cuidado clínico.
Música não é só trilha sonora da vida. Pode ser intervenção. E pode mudar, sim, seu intestino. Literalmente.